02 de junho de 2023

Aula de Hoje

  • Modelo Coletivo para Tarifação de Seguros

  • Modelo para a Frequência

    • Modelo Poisson

    • Exemplos

Tarifação de Seguros

  • Vimos na Parte III do curso como calcular Seguros e Anuidades de Vida, isto é, contratos cujos pagamentos dependem de eventos incertos relacionados à mortalidade e sobrevivência de vidas.

  • Para calcular os prêmios desses seguros, precisamos determinar a distribuição de probabilidade da variável aleatória valor presente da perda futura da seguradora. Essa variável aleatória depende do tempo de vida futuro de um indivíduo, que é descrito através de uma tábua de vida.

  • E para calcular um seguro de carro? E um seguro residencial? E um plano de saúde? (Ramo Não-Vida)

Tarifação de Seguros

  • Para seguros do Ramo Não-Vida, vamos usar dados históricos para construir modelos de tarifação.

  • Vamos discutir o uso de Modelos Lineares Generalizados em um exemplo para tarifação de seguros de automóveis.

  • O objetivo é encontrar um prêmio a ser cobrado de um segurado para uma apólice anual, baseado em características observáveis do segurado (como idade ou gênero) ou do objeto segurado (modelo e ano do carro, por exemplo).

Modelo Coletivo

Modelo Coletivo

Princípio do valor esperado:

  • o prêmio associado a um risco anual \(S\) é

\[\pi(S) = (1+\alpha).\mathbb{E}(S) \] onde \(\alpha>0\) representa algum tipo de carregamento, e \(S\) é a perda aleatória anual.

Modelo Coletivo

  • Seja \((N_t)\) o processo de contagem do número de sinistros ocorridos entre \([0,t]\), e \((Y_i)\) o valor da i-ésima indenização.

  • Então a perda total no período \([0,t]\) é:

\[S_t = \sum_{i=1}^{N_t} Y_i \] com \(S_t=0\) se \(N_t=0\).

Prêmio Puro

  • Se \(\alpha=0\), o prêmio é chamado de prêmio puro.

  • Cobrar o prêmio puro pode ser justificado pela Lei dos Grandes Números, se assumirmos que as perdas são independentes e identicamente distribuídas.

  • No entanto, de acordo com a Teoria da Ruína, sabemos que a ruína será inevitável quando não há carregamento.

Prêmio Puro

  • O primeiro passo é calcular \(\mathbb{E}(S)\) para \(S=S_1\), o total anual.

  • Se \(N=N_1\) (número de indenizações no ano) e \(Y_1,\dots,Y_N\) são independentes e as perdas \(Y_i\) são i.i.d., então

\[\pi = \mathbb{E}(S) = \mathbb{E}(N) \cdot \mathbb{E}(Y) \]

  • O prêmio puro anual é o produto de dois termos:
    • a frequência anual \(\mathbb{E}(N)\);
    • o custo médio das indenizações \(\mathbb{E}(Y)\).

Prêmio Puro considerando Heterogeneidade

  • O prêmio puro do slide anterior considera apenas a média geral para todos os segurados, assumindo um risco homogêneo.

  • No entanto, sabemos que um modelo mais realista seria considerar riscos diferentes, ou heterogeneidade.

Prêmio Puro considerando Heterogeneidade

  • Vamos considerar o caso em que a heterogeneidade pode ser observada através de uma variável binária \(Z\) (por exemplo, risco baixo e risco alto com probabilidade 50% em cada).

  • Vamos assumir que \(N\) tem uma distribuição Binomial, com probabilidade 10% ou 20% de acordo com \(Z\). E vamos considerar que a perda é determinística, \(Y=100\).

  • A seguradora tem duas opções:

a ) cobrar o mesmo prêmio para todos os segurados, \(\pi = \mathbb{E}(S) = \mathbb{E}(N) \cdot \mathbb{E}(Y) = 15\)

b ) cobrar um prêmio considerando a heterogeneidade, \(\pi(z) = \mathbb{E}(S|Z=z) = 10 \mbox{ ou } 20\) dependendo de \(z\).

Prêmio Puro considerando Heterogeneidade

  • Isso pode ser perigoso se existirem duas seguradoras com modelos diferentes de tarifação. Os segurados de baixo risco irão preferir a seguradora que cobrar de acordo com b), enquanto segurados de alto risco irão preferir a seguradora que cobrar a).

  • Por isso, a seguradora que não levar em conta a heterogeneidade, e não cobrar prêmios de acordo com as características individuais, não irá sobreviver em um mercado competitivo.

  • Nesse exemplo, a seguradora deve cobrar:

\[\pi(z) = \mathbb{E}(S|Z=z) = \mathbb{E}(N|Z=z) \cdot \mathbb{E}(Y|Z=z) \]

Prêmio Puro considerando Heterogeneidade

  • O problema é que a heterogeneidade nem sempre é totalmente observável.

  • Na prática, a seguradora poderá observar algumas informações, resumidas em um vetor \(\boldsymbol{X}\), relacionadas às características do segurado, do objeto segurado, etc.

  • Algumas dessas covariáveis podem fornecer uma boa aproximação para a variável latente \(Z\). Nesse caso, a seguradora deve cobrar:

\[\pi(\boldsymbol{x}) = \mathbb{E}(S|\boldsymbol{X}=\boldsymbol{x}) = \mathbb{E}(N|\boldsymbol{X}=\boldsymbol{x}) \cdot \mathbb{E}(Y|\boldsymbol{X}=\boldsymbol{x}) \]

Prêmio Puro considerando Heterogeneidade

  • Nosso objetivo é propor modelos para estimar:

    • \(\mathbb{E}(N|\boldsymbol{X}=\boldsymbol{x})\): a frequência esperada de indenizações para segurados com características \(\boldsymbol{x}\); e

    • \(\mathbb{E}(Y|\boldsymbol{X}=\boldsymbol{x})\): a severidade, ou custo médio das indenizações para segurados com características \(\boldsymbol{x}\).

Modelo para a Frequência

Modelo para a Frequência

  • Vamos começar considerando modelos para a frequência de indenizações \(\mathbb{E}(N|\boldsymbol{X}=\boldsymbol{x})\).

  • Como estamos falando de contagens de eventos, a primeira opção é considerar a distribuição de Poisson.

Modelo Poisson

  • Assuma que o número de indenizações para um segurado siga um Processo de Poisson homogêneo com intensidade \(\lambda\).

  • Isso quer dizer que o número de eventos tem incrementos independentes, e que a quantidade de indenizações observadas durante o intervalo de tempo \([t,t+h]\) tem distribuição Poisson(\(\lambda \cdot h\)).

Modelo Poisson

Exposição

  • Para um segurado \(i\), muitas vezes não temos o número de indenizações anual, isto é, \(N_i\) para o período \([0,1]\).

  • Mas normalmente temos no banco de dados o número observado de indenizações \(Y_i\) durante o período \([0,E_i]\), onde \(E_i\) é a exposição do segurado no ano.

\[Y_i \sim \mbox{Poisson}(\lambda \cdot E_i) \]

Modelo Poisson

  • Considere o modelo Poisson para um grupo de segurados em que todos tem a mesma intensidade \(\lambda\).

  • Para estimar \(\lambda\), podemos usar máxima verossimilhança:

\[\mathcal{L}(\lambda,\boldsymbol{Y},\boldsymbol{E}) = \prod_{i=1}^n \frac{e^{-\lambda. E_i}(\lambda.E_i)^{Y_i}}{Y_i!} \]

\[\hat{\lambda} = \frac{\sum_{i=1}^n Y_i}{\sum_{i=1}^n E_i} \]

Modelo Poisson

  • Como já falamos antes, faz sentido pensar que \(\lambda\) dependa de características (covariáveis) de cada segurado.

\[Y_i \sim \mbox{Poisson}(\lambda_i \cdot E_i) \]

  • Utilizando uma função de ligação logarítmica (\(\lambda_i = e^{\boldsymbol{X}'_i\boldsymbol{\beta}}\)):

\[Y_i \sim \mbox{Poisson}\left(e^{ \boldsymbol{X}'_i\boldsymbol{\beta} + \log(E_i)} \right) \]

  • É importante notar o papel da Exposição nesse modelo! O termo \(\log(E_i)\) é chamado de offset e é incluído como se fosse uma covariável, mas sem coeficiente.

Modelo Poisson

  • Assim, para modelar a frequência anual de indenizações, ajustamos uma regressão de Poisson ao número observado de indenizações \(Y\), incluindo as covariáveis \(\boldsymbol{X}\) e o log da exposição \(\log(E_i)\) como offset.

  • Vamos considerar \(\lambda_i = \exp(\boldsymbol{X}'_i \boldsymbol{\beta})\) (para garantir a positividade).

  • A log-verossimilhança é dada por:

\[\log \mathcal{L}(\boldsymbol{\beta}; \boldsymbol{Y}, \boldsymbol{E}) = \sum_{i=1}^n \left[ Y_i \log(\lambda_i E_i) - (\lambda_i E_i) - \log(Y_i!) \right] \\ \hspace{6cm} = \sum_{i=1}^n \left[ Y_i \cdot \left( \boldsymbol{X}'_i \boldsymbol{\beta} + E_i \right) - \exp\left\{ \boldsymbol{X}'_i \boldsymbol{\beta} + \log(E_i) \right\} - \log(Y_i!) \right] \]

Modelo Poisson

  • O estimador de máxima verossimilhança para \(\boldsymbol{\beta}\) pode ser encontrado numericamente usando o algoritmo de Newton-Raphson.

  • Esse método está implementado na função glm do R.

glm(Y~X1+X2+X3+offset(E), family=poisson(link="log"))

Exemplo

  • Vamos considerar o banco de dados freMTPLfreq de seguros automobilísticos contra terceiros na França.

  • Carregue os dados e veja as variáveis disponíveis.

Exemplo

  • Antes de ajustar o modelo, vamos categorizar algumas variáveis:
## categorizando variáveis
freMTPLfreq.f <- freMTPLfreq
freMTPLfreq.f$DriverAge <- cut(freMTPLfreq$DriverAge,c(17,22,26,42,74,Inf))
freMTPLfreq.f$CarAge <- cut(freMTPLfreq$CarAge,c(0,1,4,15,Inf),include.lowest=TRUE)
freMTPLfreq.f$Density <- cut(freMTPLfreq$Density,c(0,40,200,500,4500,Inf),include.lowest=TRUE)

## verificando as classes de cada variável
summary(freMTPLfreq.f)

Exemplo

  • Ajuste um modelo de Poisson para o número de indenizações, considerando a exposição (log) como offset, e as covariáveis:

    • tipo de combustível;

    • idade do motorista;

    • e a densidade populacional da cidade.

(Obs: considere as variáveis categorizadas)

Exemplo

## 
## Call:
## glm(formula = ClaimNb ~ Gas + DriverAge + Density + offset(log(Exposure)), 
##     family = poisson, data = freMTPLfreq.f)
## 
## Deviance Residuals: 
##     Min       1Q   Median       3Q      Max  
## -0.7655  -0.3385  -0.2669  -0.1488   6.5202  
## 
## Coefficients:
##                      Estimate Std. Error z value Pr(>|z|)    
## (Intercept)          -1.86471    0.04047 -46.079  < 2e-16 ***
## GasRegular           -0.20598    0.01603 -12.846  < 2e-16 ***
## DriverAge(22,26]     -0.61606    0.04608 -13.370  < 2e-16 ***
## DriverAge(26,42]     -1.07967    0.03640 -29.657  < 2e-16 ***
## DriverAge(42,74]     -1.07765    0.03549 -30.362  < 2e-16 ***
## DriverAge(74,Inf]    -1.10706    0.05188 -21.338  < 2e-16 ***
## Density(40,200]       0.18473    0.02675   6.905 5.02e-12 ***
## Density(200,500]      0.31822    0.02966  10.730  < 2e-16 ***
## Density(500,4.5e+03]  0.52694    0.02593  20.320  < 2e-16 ***
## Density(4.5e+03,Inf]  0.63717    0.03482  18.300  < 2e-16 ***
## ---
## Signif. codes:  0 '***' 0.001 '**' 0.01 '*' 0.05 '.' 0.1 ' ' 1
## 
## (Dispersion parameter for poisson family taken to be 1)
## 
##     Null deviance: 105613  on 413168  degrees of freedom
## Residual deviance: 103986  on 413159  degrees of freedom
## AIC: 135263
## 
## Number of Fisher Scoring iterations: 6

Tarifação

Modelo com uma variável categórica

  • Vamos considerar apenas uma covariável: tipo de combustível (diesel ou regular).
vY <- freMTPLfreq.f$ClaimNb   # selecionando Y
vE <- freMTPLfreq.f$Exposure  # selecionando E
X1 <- freMTPLfreq.f$Gas       # selecionando X1
## Frequência de indenizações por tipo de combustível
tapply(vY, X1, sum)/tapply(vE, X1, sum)
##     Diesel    Regular 
## 0.07467412 0.06515364

Tarifação

Modelo com uma variável categórica

  • Vamos ajustar um modelo de Poisson com essa covariável e sem intercepto:
## modelo sem intercepto
df <- data.frame(vY,vE,X1)
regpoislog <- glm(vY~0+X1+offset(log(vE)),data=df,family=poisson(link="log"))
summary(regpoislog)

Tarifação

Modelo com uma variável categórica

  • Interpretando os coeficientes:
## exponencial dos coeficientes
##
exp(coef(regpoislog))
##   X1Diesel  X1Regular 
## 0.07467412 0.06515364

Tarifação

Modelo com uma variável categórica

  • Modelo com intercepto:
## modelo com intercepto
regpoislog <- glm(vY~X1+offset(log(vE)),data=df,family=poisson(link="log"))
summary(regpoislog)
  • Interpretando os coeficientes:
## exponencial dos coeficientes
##
exp(coef(regpoislog))
## (Intercept)   X1Regular 
##  0.07467412  0.87250624

Tarifação

Modelo com uma variável categórica

  • Nesse modelo, a categoria de referência é Diesel que tem frequência de 0,0746.

  • Para tipo de combustível Regular, a frequência seria 87,25% da categoria de referência (igual a 0,0651).

  • Essa seria a frequência estimada para calcular o prêmio.

Tarifação

Modelo com covariáveis contínuas

  • Categorizamos algumas variáveis arbitrariamente. E se quisermos trabalhar com as variáveis contínuas?

Exercício:

  • Ajuste um modelo de Poisson incluindo apenas a idade categorizada do motorista como covariável (e o offset).

  • Compare esse ajuste com um modelo com a idade contínua.

Tarifação

Modelo com covariáveis contínuas

  • Uma limitação desse modelo é restringir a uma relação linear entre o número de indenizações e a idade.

  • Alternativas:

    • considerar idade como um fator (uma categoria diferente para cada idade): as.factor(DriverAge)

    • modelo não-paramétrico incluindo uma função \(s(X)\) da idade, onde \(s()\) pode ser um spline (curva definida entre dois nós). Esse modelo pode ser implementado com a função gam do pacote mgcv.

Tarifação

  • Comparação entre a predição dos modelos para idade:

Tarifação